Joseph Smith e Brigham Young Ensinaram que Haviam Civilizações na Lua? - Ciência | Intérprete Nefita

Joseph Smith e Brigham Young Ensinaram que Haviam Civilizações na Lua?

Uma análise desse tema no mínimo curioso, à luz da história e do contexto das declarações.


Por Lukas Montenegro 21 de Julho de 2019
Joseph Smith e Brigham Young Ensinaram que Haviam Civilizações na Lua?

 

Nos últimos dias comemorou-se mundialmente os cinquenta anos da chegada do homem na lua. Das diversas coisas que a viagem para nosso satélite natural ensinaram – sua composição, origem, os avanços tecnológicos desenvolvidos para tornar isso possível – uma coisa é clara: não há pessoas vivendo lá! Como é possível então que dois profetas dessa dispensação – Joseph Smith e Brigham Young— tenham ensinado que haviam civilizações na lua?

 

1. Eles realmente ensinaram isso?

 

Primeiro, em relação ao profeta Joseph Smith, não há escrito dele ou qualquer fonte confiável que afirme tê-lo visto ensinar tal conceito. A menção mais antiga encontra-se no diário de Oliver B. Huntingon, que afirma ter recebido a informação de Philo Dibble. Esse “telefone sem fio”, como é popularmente conhecido, não tem validade acadêmica para o trabalho do historiador. Considerando, porém, que pessoas próximas ao profeta como seu irmão Hyrum e também Brigham Young acreditavam em tal teoria[1], vale a pena ler as palavras de Huntingon a respeito do que o profeta teria supostamente declarado:

“Desde 1837, sei que ele [Joseph Smith], afirmou que a lua era habitada por homens e mulheres tão parecidos quanto os da terra, e que eles viviam até idade maior do que a nossa – geralmente aproximavam-se dos mil anos de idade. Ele os descreveu como medindo quase 1,8 m de altura, e vestindo-se de maneira uniforme – algo como o estilo dos Quarkers”[2].

Quanto o profeta Brigham Young, não há dúvidas de que tenha acreditado em tal teoria. Suas afirmações a respeito da lua habitada encontram-se documentadas no “Jornal of Discourses”[3], e dizem o seguinte:

Quem pode nos dizer algo sobre os habitantes deste pequeno planeta que brilha na noite, chamado lua? Quando inquirirem sobre os habitantes daquela esfera, descobrirão que o mais instruído é tão ignorante sobre eles do que qualquer um de seus companheiros”.

 

2. É possível haver habitantes na lua?

 

Antes de explicar porque Joseph e Brigham teriam feito tais afirmações – já assumindo erro – é importante abrir um pequeno espaço para a pergunta mais óbvia: estariam essas declarações realmente erradas? Em outras palavras, seria possível haver civilizações na lua?

A resposta é que não seria possível. Muito antes do homem ir a lua, a humanidade já possuía telescópios capazes de examinar a superfície lunar em bastante proximidade e em detalhes. Galileu, quatrocentos anos atrás, descreveu e desenhou com imensa riqueza de informações, a superfície lunar. Não há civilizações ou qualquer outra coisa nessas imagens. As missões Apollo somente confirmaram isso. Alguns poderiam perguntar: mas e quanto ao “lado escuro” da lua? Também temos fotografias desse desde 1959, e mais recente uma sonda lunar chinesa pousou nessa região e a explora desde então, provando a inexistência de habitantes[4].

Além disso, tanto através de observações da terra, quanto através das missões Apollo à lua, sabemos muito a respeito de sua composição. Se os seres vivendo lá fossem de qualquer forma parecidos conosco, estariam privados dos ingredientes mais básicos para a vida – gravidade em proporção ideal, oxigênio e água líquida! Além do mais, sua existência estaria constantemente ameaçada pelo constante bombardeio de asteroides a que a lua foi submetida no passado. A vida como conhecemos jamais seria possível na lua.

 

3. Como justificar, então, a afirmação dos dois profetas?

 

É importante entender primeiro que, na época de Joseph Smith e Brigham Young, diversos eruditos – inclusive importantes astrônomos como o descobridor do planeta Urânio, William Herschel, acreditavam na teoria da lua habitada[5]. Não seria errado afirmar que, ao fazer tais declarações, esses profetas estavam se apoiando em opiniões de cientistas (apesar de não científicas), de sua época.

A restauração das verdades do Evangelho de Jesus Cristo nos trouxe uma visão muito mais ampla a respeito do cosmos acima de nossa cabeça, e de seu papel nos desígnios de Deus. Uma passagem do livro de Moisés[6], exemplifica muito bem isso. Em uma das visões do grande profeta hebreu, lê-se:

E ele viu muitas terras; e cada uma se chamava Terra e havia habitantes em sua superfície.”

Motivados pelo conhecimento da extensão do plano de Deus, seria de esperar que um conceito como a lua habitada fosse entusiasticamente abraçado, principalmente num momento em que era apoiado por muitos dos doutos especialistas da época.

O cerne da questão, contudo, está no contexto ao redor dessas afirmações. Não se sabe em que contexto Joseph teria ensinado a respeito disso (nem se quer se sabe se ele o fez de fato). No caso de Brigham Young, contudo, a situação é bem simples: ele discorria a respeito de um assunto em nada relacionado com a lua – falava sobre a perseguição à doutrina do evangelho, e aos santos que eram chamados por muitos de fanáticos. Ao argumentar que, em muitas casos o rótulo de “fanatismo” é dado por pessoas que pouco conhecem sobre o assunto[7], ele cita o exemplo dos habitantes da lua – um assunto sobre o qual ninguém sabia muito naquela época, e que portanto poderia ser assim taxado.

A questão, então, se torna minúscula em termos de impactos doutrinários, já que não constituía em si numa doutrina – foi usada pelos profetas como uma mera ilustração para o princípio central ensinado. Da mesma forma os apóstolos e profetas atuais (e qualquer pessoa, de qualquer área) citam como ilustrações de seus ensinamentos, estatísticas e verdades seculares que, com o avanço das ciências, podem se mostrar inadequadas.

 

4. Conclusão: São os Profetas Infalíveis?

 

Os profetas, videntes e reveladores de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias recebem revelação e autorização divina para cuidar dos negócios pertencentes ao reino de Deus nesta terra. Isso não significa que sejam perfeitos ou que recebam diretamente de Deus instrução sobre todas as áreas do conhecimento.

Declarações desse tipo não devem trazer grandes surpresa ou confusão aos membros da Igreja. O Senhor tem cuidado de seu rebanho na terra e tem revelado seus segredos a seus servos, os profetas. Isso não significa que esses servos, enquanto homens, não possam falhar em suas opiniões científicas, políticas ou filosóficas. Uma das belas verdades do evangelho é que o Senhor escolheos simples e os imperfeitos, e os qualifica para sua obra.

 

 

REFERÊNCIAS

 

[1] - Hyrum Smith, "Concerning the plurality of gods & worlds," 27 April 1843;

[2] - Van Hale, "Mormons And Moonmen," Sunstone 7 no. (Issue #5) (September/October 1982), 13–14;

[3] - Journal of Discourses, vol. 13, p. 271 – acesso em: https://contentdm.lib.byu.edu/digital/collection/JournalOfDiscourses3/id/4872

[4] - https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/01/03/pela-primeira-vez-na-historia-sonda-chinesa-pousa-no-lado-oculto-da-lua.ghtml

[5] – CUNNINGHAM, C. L., “The Scientific Legacy of William Herchel”, pg. 243 - Editora Springers;

[6] – Moisés 1:29;

[7] – Jornal of Discourses, vol. 13, pg. 269-271;



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