Por que Alma 7:10 diz que Jesus nasceria em Jerusalém se a Bíblia declara que Jesus nasceu em Belém? | Intérprete Nefita

Por que Alma 7:10 diz que Jesus nasceria em Jerusalém se a Bíblia declara que Jesus nasceu em Belém?


Por Luiz Botelho 17 de Julho de 2018
Por que Alma 7:10 diz que Jesus nasceria em Jerusalém se a Bíblia declara que Jesus nasceu em Belém?

PERGUNTA:

Por que o Livro de Mórmon em Alma 7:10 afirma que Jesus nasceria em Jerusalém se a Bíblia ensina claramente que Jesus nasceu em Belém? Alecsandro, RJ

RESPOSTA:

Olá Alecsandro,

A questão proposta é válida e apesar de frequentemente ressurgir como novidade, é praticamente tão velha quanto a própria existência da Igreja em tempos modernos. Uma leitura superficial de Alma 7:10 fará com que até o mais leigo dos leitores identifique o que parece ser uma inconsistência e erro grotesco no texto do Livro de Mórmon. Entretanto, há diversos pontos cruciais para o entendimento do versículo em questão, que os mesmos olhos leigos será provavelmente incapaz de observar caso não faça uma análise contextual dos fatos citados. Analisemos o versículo e em seguida alguns desses pontos:

"E eis que nascerá de Maria, em Jerusalém, que é a terra de nossos antepassados(...)" Alma 7:10

1. Alma 7:10 anuncia o nascimento de Cristo "em Jerusalém," e logo em seguida se refere ao local como "a terra de nossos antepassados." Alma em nenhum momento declara que Jesus nasceria "na cidade de Jerusalém," mas "em Jerusalém" o qual tanto em tempos antigos como modernos inclui outras cidades como fazendo parte de sua "terra." A cidade de Belém está localizada a apenas 8 kilômetros de distância de Jerusalém, sendo naturalmente parte da "terra de Jerusalém." Até mesmo cidades como Hebron, localizada a 40 kilômetros de Jerusalém, é considerada historicamente como parte da terra de Jerusalém. 

2. A tradução da língua Portuguesa, "em Jerusalém" provém da versão Inglesa "at Jerusalém." O problema, entretanto, é que enquanto a palavra "em" em Português se refere a um local exato, a palavra "at" em Inglês pode tanto se referir a um local exato como aproximado, o que corrobora com o fato citado no ponto anterior. Em outras palavras, a versão Inglesa, que é a tradução original das placas do Livro de Mórmon, utiliza uma palavra que é consistente com o fato de Belém ser próxima de Jerusalém, enquanto no Português somos conduzidos a concluir que o verso é mais específico do que ele de fato é. Isso demonstra as limitações do uso da tradução e transmissão de informações de um idioma a outro e o fato de que conclusões definitivas não podem ser tiradas sem uma análise do contexto dos fatos e do que as palavras significam não para nós, mas para os envolvidos no verso.

3. II Reis 14:20 afirma que Jerusalém é a "Cidade de Davi." Lucas 2:4, entretanto, afirma que Belém é a "Cidade de Davi." Por que a Bíblia em II Reis 14:20 afirmaria que Jerusalém é a Cidade de Davi, se o Novo Testamento se refere à Belém como a Cidade de Davi? Se utilizássemos a mesma lógica crítica proposta de que o Livro de Mórmon é falso por citar "Jerusalém" como o local do nascimento de Cristo, teríamos que igualmente concluir que a Bíblia é falsa por se referir ela a dois locais distintos como sendo o mesmo local. Como mencionei no início, apenas uma análise superficial do contexto geraria esse tipo de conclusão. Em outras palavras, II Reis 14:20 e Lucas 2:4 estão em plena harmonia quando compreendemos que ambas fazem parte da mesma "terra." Podemos utilizar como exemplo a cidade de São Paulo, que é parte do Estado de São Paulo. Tanto quem mora na metrópole como quem mora no interior, poderia seguramente dizer que mora em "São Paulo," seja se referindo à cidade específica ou ao estado, que engloba muitas outras cidades. 

4. O ponto frequentemente citado por críticos de que "até uma criança da pré-escola sabe que Jesus nasceu em Belém e não Jerusalém" é ao meu ver mais uma evidência da autenticidade do Livro de Mórmon do que uma crítica bem fundamentada. O Livro de Mórmon possui uma extrema riqueza de detalhes culturais do Oriente Médio, do Novo Mundo, detalhes da construção de aspectos sociais, políticos, religiosos, bélicos e poéticos do povo Nefita e Lamanita, assim como complexas estruturas literárias como Hebraísmos e Quiasmos. Se Joseph Smith foi uma fraude e inventou o Livro de Mórmon, teríamos que presumir (apesar de não haver uma evidência sequer para isso) que ele era um autor genial e que despendeu pesquisas incontáveis para reunir em uma obra do século 19 uma coletânea consistente de complexas informações de diversas áreas de estudo.

A questão é... Quão racional seria nessa visão imaginar que Joseph foi uma fraude tão genial e inteligente, mas que por alguma razão, apesar de toda a pesquisa que supostamente teria que fazer, não saberia nem mesmo que Jesus nasceu na cidade de Belém, e não Jerusalém? Simplesmente não é consistente. Por essa razão, da mesma forma que "até uma criança da pré-escola sabe que Jesus nasceu em Belém" é igualmente provável que Joseph também o soubesse. Se Joseph fosse uma fraude, a menção à Belém como o local do nascimento de Cristo seria evidente e não Jerusalém. Joseph, entretanto, não foi o autor do livro, e por essa razão, fica evidente que o real autor (no caso Alma), tinha um contexto mais amplo em mente.

Dessa forma, tal questão é incapaz de passar no teste de consistência textual e contextual dos fatos e definições históricas relacionadas ao nascimento de Cristo, e mais uma vez, não representa um real desafio ou inconsistência do Livro de Mórmon em relação à Bíblia.

Abraço,


IntérpreteNefita

 



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