As Escrituras Revelam a Idade da Terra? | Intérprete Nefita

As Escrituras Revelam a Idade da Terra?


Por Lukas Montenegro 07 de Setembro de 2018
As Escrituras Revelam a Idade da Terra?

PERGUNTA:

Apesar das evidências científicas apontarem para uma terra com muitos milhões de anos, ainda é recorrente ver membros da igreja que apoiam a teoria de que a terra não tem mais do que alguns milhares de anos de idade. Teria a terra somente seis mil anos de existência?

RESPOSTA:

          A questão a respeito da idade da terra geralmente recebe três respostas dos membros da Igreja: 1) A terra tem seis mil anos de idade; 2) a terra tem 13 mil anos de idade ou 3) A terra pode ter milhões ou bilhões de anos de idade. Poucos acreditam na hipótese (1), porém existe considerável dúvida entre as hipóteses 2 e 3. Vejamos o motivo:

1.      Apesar da hipótese de uma terra com bilhões de anos ter total apoio das evidências científicas, a segunda hipótese recebe certo crédito através de uma interpretação[1] feita a respeito do tempo de Deus, tal como apresentado em Abraão 3:4. Lá lemos:

"E o Senhor disse-me, pelo Urim e Tumim, que Colobe seguia, em suas revoluções, o padrão do Senhor quanto às suas épocas e estações; que uma revolução era um dia para o Senhor, segundo a sua maneira de calcular, sendo mil anos conforme o tempo designado para onde te encontras. Esse é o cálculo do tempo do Senhor, de acordo com o cálculo de Colobe".

Nesse contexto, a terra teria 6 dias de criação x 1000 anos = 6.000 anos + 1.000 anos do dia em que o Senhor descansou + 6.000 anos de cronologia Bíblica entre Adão e os dias atuais = 13mil anos de idade. Essa  interpretação pode-se revelar, contudo, falha, pois a compreensão desse versículo é bem mais ampla.

     Primeiro, é necessário considerar que a palavra "dia", no contexto da criação, conota principalmente um período de tempo, e não necessariamente o tempo que demora para a terra girar em torno de seu eixo (24h). Isso faz sentido se considerarmos que algumas passagens escriturísticas em Doutrina e Convênios nos levam a crer que a) para Deus o conceito de tempo é irrelevante, pois Ele vê o passado, presente e futuro de maneira unificada. Logo, não haveria motivo para que colocasse Colobe como um relógio universal.

          Faz mais sentido considerar que Deus usa a palavra dia de maneira meramente representativa, apenas para inserir divisões genéricas no relato. Além disso, o tempo registrado pelos profetas é dado de acordo com a terra onde habitam, e não haveria razão para que Deus revelasse a Abraão um relato da terra baseado em Sua contagem de tempo, e não na de Abraão [2].

          Segundo, é também importante lembrar de que a ideia de que haveriam de Adão até os dias atuais um período de aproximadamente seis mil anos vem da "Cronologia de Usher", um relato do século XVII escrito por James Usher, bispo anglicano, que baseia sua datação em uma contagem literal das idades das diversas personalidades do Velho Testamento. Considerando que não há rigor científico nessa contagem, que não considera inclusive os diferentes calendários utilizados em diferentes momentos das escrituras, bem como as próprias imprecisões na medição de tempo pelos antigos, não se pode dizer com certeza de que se passaram seis milênios de lá para cá.

          Se o relato espiritual da expulsão de Adão e Eva coincide com o estabelecimento das primeiras vilas de agricultores[3], esses foram estabelecidos cerca de 9.500 anos atrás e, portanto, mais de três milênios antes do previsto pelo bispo de Usher[4]. Se o evento coincide com o estabelecimento das primeiras civilizações, estamos falando de mil anos depois da previsão de Usher, cerca de 3000 A.C.

          Assim, nem quanto ao período anterior nem posterior a queda de Adão é possível estabelecer datas ou períodos de tempo confiáveis. 

 

2.    Além de discutir a complexa simbologia da astronomia Abraâmica, é interessante observar que entre aqueles próximos ao profeta Joseph Smith nos tempos da tradução dos papiros de Abraão a ideia de uma terra com somente treze mil anos de idade nunca foi muito popular. Vejamos alguns relatos:

I) William W. Phelps, editor de Doutrina e Convênios e amigo próximo do profeta Joseph Smith, inclusive na época da tradução do registro Abraâmico: 

"Essa eternidade, de acordo com os registros encontrados nas catacumbas do Egito, vem acontecendo neste sistema, por quase 2,55 Bilhões de anos; e saber que deístas, geólogos e outros estão tentando provar que a matéria deve ter existido há centenas de milhares de anos: - quase tenta a carne a voar para Deus, ou reunir fé como Enoque para ser transladada e ver e saber como somos visto e conhecido!" [5].

II) O Profeta Brigham Young, confidente de Joseph Smith e seu sucessor no manto profético:

"Nesses aspectos, diferimos do mundo cristão, pois nossa religião não colidirá ou contradirá os fatos da ciência em qualquer particularidade(...). Se entendêssemos o processo da criação, não haveria mistério sobre isso, seria tudo razoável e claro, pois não há mistério a não ser para o ignorante" [6].  

III)  Roger W. Penrose, Membro da Primeira Presidência:

"Isso não mais prevalece entre pessoas esclarecidas, e foi derrotada por pesquisas e desenvolvimentos e observação científica. A geologia, ou "a ciência da terra", demonstrou a falácia da idéia de que a Terra é um tão jovem planeta neste universo(...).Os dados fornecidos por geólogos completamente sinceros e exploradores da verdade são suficientemente definidos e confiáveis para provar que este planeta existiu, mudou e teve suas longas eras, antes do período de seis mil anos"[7].

 

3.     Como citado acima, existem incontáveis evidências que corroboram com o fato de que a terra tenha (de acordo com uma estimativa moderna), cerca de 4,5 bilhões de anos. Muitos desses fatos foram inclsuive citados em artigos de autoridades gerais.

I) O Apóstolo, escritor e Geólogo James E. Talmage, cita como evidências da idade da terra, "a hipótese planetesmial, e suas evidências nas camadas de rocha e partículas sólidas depositadas nos leitos dos oceanos, mares e rios"[8].

II) O também Apóstolo, escritor e Cientista John A. Widstoe, cita a disposição ordenada dos fósseis vegetais e animais nas rochas terrestres, e que depois de uma considaração cuidadosa do assunto, declarou: "Quanto mais o assunto é cuidadosamente examinado, mais firme cresce a crença de que a criação da Terra ocupou imensos períodos de tempo"[9].

III) Um terceiro fato de valia é o método de datação por materiais radioativos, que por meio de análises da radioatividade de certos elementos presentes em qualquer material, é capaz de estimar com considerável precisão a idade das rochas mais antigas. É interessante observar que essas datações concordam entre si, quando tomamos rochas antigas terrestres e comparamos com rochas de meteoritos vindos de outras partes do sistema solar.  

 

 

Conclusão

     A pesquisa científica e a doutrina do evangelho são maravilhosas formas de conhecermos mais o Pai Celestial. E apesar de nunca conflitarem, quase nunca é possível chegar com precisão numa conclusão científica, usando somente as escrituras, ou vice-versa. Procedendo, portanto, com uma análise simples, porém suficiente, dos fatos científicos, bem como das diversas declarações feitas a respeito do tema por autoridades gerais, observa-se que a hipótese mais abrangente e coerente sobre a idade da terra, é a terceira hipótese, que lhe atribui o necessário tempo para o desenvolvimento geológico e biológico, sem roubar-lhe significado espiritual. Como já citada no texto, a idade da terra seria de aproximadamente 4,5 bilhões de anos.

 

Referencias:

1. O principal expoente da teoria de uma terra com 13mil anos é o Profeta Joseph Fielding Smith, que apresenta a teoria no primeiro volume de sua coletânea de escritos intitulada "Doutrinas de Salvação";

2. Um exame cuidadoso de D&C 130:4-7 demonstra esses fatos.

3. Em Gênesis 3:23 existiria uma possível indicação de que o homem saiu do jardim para "lavrar a terra" - praticar agricultura. 

4. "The Seeds of Civilization", artigo da revista "Smithsonian", publicado em: https://www.smithsonianmag.com/history/the-seeds-of-civilization-78015429/

5. PHELPS, W. W., “The Answer,” Times and Seasons 5 (December 1844): 758. A aproximação de Phelps foi muito boa para sua época, apesar de hoje sabemos que a terra tem quase o dobro dessa idade.

6. YOUNG, B., "Journal of Discourses ,14:116", Maio de 1876.

7. PENROSE, R. W., "On the Age of the Earth", Improvement Era, 1909.

8. TALMAGE, J. E., "Prophecy as the Forerunner of Science—an Instance," Improvement Era 7 no. 7 (May 1904), 486-487.

9. WIDSTOE, J. A., "On the Age of the Earth", Improvement Era, 1909.



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