Quem eram os Magos que Visitaram o Infante Jesus? | Intérprete Nefita

Quem eram os Magos que Visitaram o Infante Jesus?


Por Lukas Montenegro 29 de Dezembro de 2019
Quem eram os Magos que Visitaram o Infante Jesus?

PERGUNTA:

O que dizem as escrituras e registros históricos sobre a identidade dos magos que visitaram e presentearam o menino Jesus?

RESPOSTA:

A comemoração do nascimento de Cristo  - o Natal - é uma das celebrações mais populares do mundo. Além das fartas ceias e dos presentes, muitos cristãos voltam seu coração nessa época para aprender mais sobre o Filho de Deus e as circunstâncias de seu nascimento. Por essa ser uma história com mais de dois mil anos de idade, contudo, é comum haverem "mitos" misturados com os fatos conhecidos nas escrituras sobre o evento. O exemplo mais evidente disso são as tradições em volta dos "Reis Magos" que viajaram para a Judéia para visitar o bebê Cristo. Aqui tentarei desmistificar algumas dessas tradições errôneas. 

1. O que sabemos por certo

A única evidência que possuímos no cânone de escrituras a respeito dos magos encontra-se no segundo capítulo do livro de Mateus, no novo Testamento, nos versículos 1 ao 12. Ali aprendemos o seguinte sobre os magos:

I. Alguns magos vieram do oriente em busca do Rei dos Judeus, guiados pela nova estrela que surgiu no céu (vs. 1-3);
II. Eles primeiro dirigiram-se ao rei Herodes, que depois de consultar-se com seus sábios, os direcionou para Belém da Judéia (vs. 4-8);
III. Os magos adoraram ao menino Jesus, e presentearam-lhe com ouro, insenso e mirra. Depois, retornaram à sua pátria (vs. 9-12);

Qualquer coisa além disso são informações que apareceram subsequentemente na tradição ocidental (principalmente através de clérigos e escritores da Igreja Católica no período medieval), e cuja a autenticidade não pode ser definitivamente comprovada. Alguns desses "mitos" serão explorados brevemente a seguir.

2. Quantos Magos haviam?

Essa pergunta é fácil. É óbvio que eram três magos - um presenteou com ouro, um com insenso e um com mirra. É interessante notar, contudo, que Mateus menciona somente que "uns magos vieram do oriente"[1], e não seu número exato. A quantidade de três magos vem da tradição da igreja católica do ocidente, que associou um presente a cada um dos magos presentes. A tradição da igreja oriental, contudo, (em especial a tradição siríaca) menciona doze magos visitando Cristo em Belém[2]. Fato é que não sabemos seu número exato por nenhuma fonte realmente confiável.

3. Eles eram Reis?

Muitas pessoas costumam a referir-se aos magos como "Reis Magos". A tradição da igreja católica ocidental contém até o nome de seus domínios - um era rei da Pérsia, um da Arábia e o outro da Etiópia. Essa é uma tradição que apareceu somente, porém, no século 3 D.C., e portanto trezentos antos depois do nascimento de Jesus[3]. Acredita-se que a principal razão para isso seja o desejo dos teólogos do cristianismo em associar a adoração dos magos à promessa feita em Salmos 72:11: "E todos os reis se prostrarão perante ele; todas as nações o servirão." Não existe, contudo, nenhuma razão oficial para considerar que fossem reis. 

4. Conhecemos o nome dos Magos?

Não poucas pessoas conhecem o nome dos magos. Na versão portuguesa eles eram Belquior, Baltazar e Gaspar. Novamente, esses nomes tem origem de material que só apareceu séculos depois do nascimento de Cristo, e tais nomes não são encontrados no relato oficial sobre os magos. A maioria dos pesquisadores acredita que a primeira menção ao nome dos magos é encontrada em uma cronologia das escrituras do século 8 D.C, chamada "Excerpta Latina Barbari"[4]. Assim, de maneira oficial, não conhecemos os nomes deles.

5. Por que "magos"?

A palavra vem do grego, onde "magos" é derivado os "magûs", que no antigo persa designava praticantes do Zoroastrismo, uma doutrina religiosa que dava particular atenção aos astros e cujos membros eram famosos no mundo antigo por seu conhecimento de astrologia[5]. Na versão do Rei James das escrituras, a tradução de "magos" é feita também como "homens sábios"[6]. Se os magos que visitaram Cristo eram ou não praticantes do zoroastrismo, não se sabe. Foram chamados na escritura dessa forma, contudo, por seu óbvio conhecimento da tradição astrológica que os permitiu associar o surgimento de uma nova estrela ao nascimento de um grande rei - e sua habilidade de guiar-se através desta até a Judéia.  

6. Os magos estavam presentes no Nascimento de Cristo?

Todas as representações do "presépio" colocam os magos lá no estábulo, adorando o Cristo recém-nascido ainda dormindo na mangedoura. Isso é, porém, impossível por razões óbvias. Os magos só souberam do nascimento de Cristo quando este de fato ocorreu e a nova estrela surgiu no céu. Dependendo de onde se encontrassem no Oriente (pois também não se sabe essa informação), demoraria no mínimo meses para preparar uma caravana e viajar até Belém. Os magos provavelmente visitaram Jesus alguns meses antes de seu segundo aniversário - já que foi depois de "inquirir exatamente acerca do tempo que a estela lhes aparecera", que Herodes decidiu assassinar todos os bebês da região abaixo de dois anos de idade[7]. 

Conclusão

Apesar de muitos detalhes sobre os magos não passarem de tradições infundadas, como é grande o sentimento de alegria em saber que tanto o judeu (os pastores) como gentios (os magos) uniram-se em profunda adoração ao Deus menino que havia nascido para salvar o mundo de seus pecados. Assim como os magos que ofertaram o que tinham de precioso para o grande rei dos Judeus, assim também podemos fazer oferecendo nosso coração quebrantado e um espírito contrito. Nossa vontade é a única coisa que não é Dele. Oferecê-la de bom grado ao obedecer seus mandamentos é o melhor presente de natal que podemos Lhe dar.

Referências:

1. Mateus 2:1;
2. VERMES, G.,The Nativity: History and Legend, London, Penguin, 2006, p. 22
3. Enciclopaedia Britannica: "Magi: Scriptures, Tradition & Importance", acesso em 22/12/2019;
4. "Excerpta Latina Barbari", traduzida por um bárbaro do grego no século 8 D.C e de conhecido uso dos escritores católicos medievais;
5. BOYCE, M., A History of Zoroastrianism: The Early Period (Brill, 1989, 2nd ed.), vol. 1, pp. 10–11
6. Ver Mateus 2:1 na versão em inglês da Bíblia do Rei James;
7. Ver Mateus 2, capítulo inteiro (em especial versículos 7 e 16);



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